sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sintaxe: explorando a estrutura da sentença

NEGRÃO, E. V., SCHER, A., VIOTTI, E. Sintaxe: explorando a estrutura da sentença. In: J. L. Fiorin (org.). Introdução à lingüística I. São Paulo: Contexto, 2002, Vol. 1: objetos teóricos.


Qualquer falante de uma língua natural tem como noção inerente, intuitiva, a competência lingüística que permite distinguir, na estrutura de uma sentença, tanto sua constituição hierárquica quanto a noção de que esta se distingue em dois momentos: uma parte contendo itens lexicais que demandam imposições restringem os elementos que atendem a essas e outra parte onde esses itens estão contidos. A noção de hierarquia vem dessa necessária relação de posição desses elementos, onde uma linearidade acarreta a perda de sentido da sentença, como em “A perdeu menino o bola”. As exigências dos itens lexicais, bem como estruturas formadas nos itens que correspondem à essas imposições, são próprias de grupos que tomamos como “categorias gramaticais”. A noção dessa categorização é natural dos falantes; pois percebem (intuitivamente) que as propriedades gramaticais - morfológicas, distribucionais e semânticas - morfológicas, distribucionais e semânticas - são especificas em cada grupo. A função do analista de linguagem é exatamente a de observar estas especificidades de cada item lexical e dividi-los em grupos. Essa divisão pode parecer lógica e já definida diante da classificação posta em livros de gramática, mas os casos prototípicos demonstrados são demasiadamente limitantes quando passamos a observar a vastidão da língua viva.

Estrutura de constituintes
A sentença das línguas naturais são formadas por sequência linear, porém, tal sequência não é aleatória. Usando duas frases de exemplo, tiradas do texto “Sintaxe: explorando a estrutura da sentença”; como:

a. O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada.
b. A comprou uma menino nova o com bicicleta mesada.
Os constituintes complexos como o menino e comprou uma bicicleta nova com a mesada se unem para formar a sentença, que é considerado como o constituinte hierarquicamente mais elevado. Tal junção que parte de itens lexicais e os coloca em grupos maiores e hierarquicamente superiores, é conhecido como estrutura de constituintes. E o que a torna agramatical é a impossibilidade de formar uma estrutura de constituintes, como a frase b. Resumindo, sentenças das línguas naturais não são formadas por sequências lineares de itens lexicais. São formadas com base na estruturação hierárquica de seus constituintes, onde as palavras são agrupadas em sintagmas e sintagmas são unidos com sintagmas mais altos, até atingir o nível da sentença.
Evidências para a estrutura de constituintes
Para realizar certos efeitos discursivos, os variados constituintes dessa sentença podem ser colocados em posição inicial. No chamado clivagem, se desloca os constituintes da sentença. E nessa fase, constituintes da sentença não são só movidos para uma posição frontal, mas também são ‘aglomerados’ entre o verbo ser e o conectivo que. Da mesma forma que alguns constituintes podem ser movidos para o final da sentença. Outra possibilidade de deslocamento que manifesta a estrutura de constituintes de uma sentença construída com o verbo transitivo direto é a Passivizição. Os casos acima envolvem movimento de constituintes, onde eles evidenciam o fato de que a sentença é estruturada em constituintes, porque não é possível mudar partes de constituintes, nem sequências que gera um constituinte. Fragmento de sentenças é quando a evidencia de natureza distribucional é feita para a estrutura de constituintes de uma sentença. A Pronominazalização é outra evidencia sintática que comprova a estrutura de constituintes e que não é ligado a sua distribuição na sentença. As línguas naturais usam de proformas para retornar a referencia de entidades e eventos já mencionados na sentença ou no discurso. E as proformas só substituem constituintes sintáticos. A elipse é um fenômeno lingüístico que é envolvido por outro recurso que se tem para evidenciar constituintes cujo núcleo é o verbo.

Ambiguidades estruturais
Nesse caso, o que a sintaxe vai fazer é investigar a possibilidade de a ambiguidade de uma sentença como estar associada a diferentes estruturas. Quando se move constituintes diferentes, se desfaz ambiguidade da sentença, e se resume a uma forte evidencia de que tal ambiguidade é causada pela possibilidade de a sentença apresentar duas estruturas sintáticas diferentes.

Predicados e argumentos
Com base na idéia de que usamos as línguas naturais para expressão do pensamento é que se dá esta seção sobre predicados e argumentos. Para se ter uma noção desses conceitos tem-se argumentos caracterizados como elementos capazes de satisfazer as exigências de um certo predicado, desempenhando papéis específicos determinados pelo mesmo. No caso em que há apenas um argumento, denomina-se predicado de um lugar; se há dois argumentos, predicado de dois lugares e assim sucessivamente. Quando há um predicado de dois lugares, cada um dos argumentos desempenha um papel diferente. Em relação aos predicados, todas as categorias lexicais podem funcionar como tais, entretanto os verbos são considerados predicados por excelência. Verbos, nomes, preposições, adjetivos e advérbios, podem ser predicados, sendo que estes impõem exigências sobre os seus argumentos, sendo estas de caráter semântico e sintático. Quanto às exigências semânticas, caracterizam-se por estarem associadas aos papéis desempenhados pelos argumentos do predicado, chamados de papéis temáticos. De acordo com o número de argumentos do predicado, se dá o número de papéis temáticos. Por exemplo, um predicado de dois lugares apresentará dois papéis temáticos aos seus argumentos: O de agente (realizador) e o de paciente (receptor); Um predicado de três lugares pode ainda ter mais um papel temático além destes dois citados: o de Instrumento (objeto com o que se realiza uma ação). Já as exigências sintáticas são as que fornecem um esqueleto estrutural sobre o qual os itens lexicais são projetados. Na sintaxe um núcleo é o termo responsável por todas as exigências impostas aos outros termos da sentença. Um dos argumentos, que junta-se primeiramente ao núcleo é chamado de argumento interno e ocupam uma posição chamada de complemento. A junção do núcleo e seu complemento formam um sub-constituinte ao qual se junta o segundo argumento denominado argumento externo. A posição que este ultimo ocupa é chamada de especificador. Ainda na sintaxe é válido citar que certos constituintes não são previstos como exigências dos predicados no léxico, são aqueles que ocupam a posição de adjunto.

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