A realidade das entidades teóricas

BORGES NETO, J & DASCAL, M. De que trata a lingüística, afinal? IN: BORGES NETO, J. Ensaios de Filosofia da Lingüística. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

Ainda pensando na obra de Borges Neto, a partir da problematização do objeto teórico constitutivo da Lingüística como ciência, o autor se refere a três abordagens acerca da natureza do objeto da Lingüística. Estas abordagens vêm na tentativa de esclarecer a realidade das entidades teóricas, no sentido de elucidar uma questão filosófica inerente às ciências em geral: as entidades teóricas são reais, observáveis?
As três abordagens são:
· Nominalismo: representada por Bloomfield, tem como pressuposto fundamental o fato de a linguagem ser materializada e, portanto, observável. O objeto teórico de Bloomfield é constituído pelos sons da fala e, segundo ele, “os termos teóricos, como fonema, apenas abreviam um conjunto de comportamentos idênticos que conjuntos de sons apresentam”. Assim, a atribuição de significantes se pautaria em uma referência concreta à realidade.
· Conceptualismo: ainda utilizando a referência de Bloomfield aos fonemas, agora nos deteremos à concepção de Sapir, segundo a qual os fonemas são formas psicologicamente reais por meio das quais o falante apreende a realidade dos sons. A realidade dos sons não seria, então, material, como prega Bloomfield, mas psicológica.
· Realismo: proposta pelo filósofo Karl Popper, define três mundos inter-relacionados: o mundo dos objetos reais, o mundo dos processos mentais, e o mundo das entidades e relações teóricas. Este último é uma criação psicológica humana, mas se tornam independentes dela quando criados, o que lhes confere uma existência objetiva independente e autônoma.

Toda teoria lingüística vai se confrontar com o problema apontado por Borges Neto na construção de seu objeto teórico, obrigando-se a definir uma resposta. Esta resposta influencia não apenas o processo de criação do objeto, mas a abordagem que se fará da realidade deste objeto e, principalmente, a tomada desta realidade para si e para as questões metodológicas a serem adotadas.

Nicolle Casanova